domingo, 8 de abril de 2012

O cristianismo secular do Brasil.

O cristianismo secular do Brasil. As questões religiosas no Brasil podem ser vistas como um grande tabu, como em um clássico das multidões, dignas de um Fla x Flu dos anos 70. Fosse eu um cronista de grande talento, me inspiraria em Nelson Rodrigues para discorrer com astúcia sobre o cristianismo no Brasil do século XXI. Católicos Romanos e Protestantes Petencostais duelam desde o inicio do século passado para impor uma verdade conforme as respectivas doutrinas. Nelson Rodrigues talvez fizesse a crítica ao cristianismo moderno, onde seria “endemonizado” e inquirido, não pela benevolência ao erotismo comum em suas crônicas, mas por ousar em fazer a crítica aos religiosos. Eu, Cristão declarado, por crença e milagre, dou inicio a este artigo tomado pelo cristianismo “brasileiro”, pois desde garoto ouço pregações de cristãos católicos e evangélicos e acompanho a mudança de comportamento dos “irmãos” na grande São Paulo. Lembro-me quando criança dos crentes indo a Igreja com lindos trajes, homens tão bem vestidos quanto advogados na Praça João Mendes e mulheres com vestidos devidamente engomados, como fossem a uma festa de gala, ou em um jogo de futebol nos anos 10 do século XX. Entre os Católicos, “idólatras” para os “crentes”, via-se a cruz a mostra e a imagem de Nossa Senhora em suas mãos, imagem envolta a um terço ou rosário. Os católicos não eram tão bem vestidos como os protestantes, mas seguiam a caminho da salvação junto a Igreja do bairro. Vinte e poucos anos se passaram, ao qual a minha memória alcança e vejo que o comportamento dos cristãos brasileiros mudou, não somente nos trajes, mas também na essência. Ao dogma cristão, sobrou o sonho do primeiro milhão, do primeiro iate, da primeira mansão. A cruz que foi o sinal da salvação, vazia para os evangélicos, representada pelo Cristo morto aos Católicos para enfatizar o sofrimento do filho de DEUS na terra foi trocada pela prosperidade desenfreada, da permuta do dízimo para com a riqueza divina. As orações em vigílias, tão comuns no inicio dos anos 90 levavam fiéis à entrega cristã do cristo pobre, filho de gente humilde e hoje, ao que me parece não carrega tantos jovens a vivenciar esta pregação que narra o filho de José e Maria, paupérrimos a espera do fim do sofrimento ao povo judeu. Um desavisado certamente imaginaria que Jesus nasceu rico e com o passar dos anos acumulou riquezas com ajuda do pai celestial e por este motivo foi morto, não por se declarar o Messias, mas sim por uma questão de luta de classes ou assassinado por não pagar os seus impostos em dia. Pode-se imaginar Jesus em sua volta dirigindo uma Ferrari e andando de Iate. Se um cidadão não conhecedor da fé cristã assistir a pregações do cristianismo contemporâneo brasileiro pode-se chegar à conclusão citada acima sem nenhum exagero. A Igreja Católica Apostólica Romana, ao contrário do que imaginam não teve força política no Brasil. Apareceu no inicio da Colonização portuguesa no Brasil com a aliança Coroa-Igreja, mas tão logo as divergências econômicas surgiram e a Igreja tornou-se uma espécie de concorrente da Coroa, dentro da complexidade devida, a difusão ocorreu paulatinamente e com as pressões dos colonos, se fez valer o desenvolvimento econômico. Tanto a escravidão indígena, escravidão dos negros e a vinda dos imigrantes europeus para embranquecer o Brasil não tiveram a influência direta do Santo Oficio. A Igreja aparece dentro do processo, mas não como fundamental. A inquisição ocorreu por aqui, no entanto pontual e não como regra. A Igreja Católica se importou pouco com o Brasil porque a rentabilidade em grande escala não existiu ao longo destes séculos a seu favor. O declínio dos negócios no engenho de cana também foi fundamental para o desinteresse da Igreja por aqui, dando mais espaço aos colonos, que tomaram de assalto às terras indígenas. No ingresso do Brasil para a modernidade, a influência foi Militar e Positivista inspirada em Auguste Comte, filósofo francês, ideologia esta adotada por intelectuais de farda no fim do século XIX e inicio do século XX. Desta forma, não podemos imaginar que a influência cristã se fez valer no Brasil moderno, após a proclamação da República em 1889 e não foi a Igreja que deu fim a escravidão brasileira em 1888. A figura do ativismo religioso talvez tenha aparecido com o surgimento da Igreja Protestante no Brasil, singular em aspectos religiosos, pois a prosperidade do protestantismo europeu não ocorreu na sua essência em terras brasileiras em seu inicio. Viu-se uma prática mais voltada ao cristianismo medieval, guardadas as devidas proporções, mas se fazia valer a fé em DEUS, seja na pobreza ou possível riqueza. E este protestantismo apareceu em um momento do país com certa liberdade. Pode-se citar a expulsão dos holandeses no passado, não só por questões territoriais, mas também porque eram protestantes, no entanto dizer que foi por grande influencia da Igreja Católica talvez seja uma forma inverídica de conceituar. O surgimento do protestantismo em sua plenitude veio na República e antes disso a questão de proteção territorial era a preocupação. Apontam a Marcha da família em janeiro de 1964 como fator que auxiliou no Golpe Militar, porque a Igreja discursava contra o ideal Comunista e a elite com medo de perder os seus bens em um suposto levante igualitário, foi às ruas utilizando-se da fé, para se fazer valer a tradição e moral e isso não se deu diante da temeridade do ateísmo que o comunismo poderia proporcionar ao país. Nota-se que a questão econômica foi mais presente do que a fé e apontar a passeata para a desenvoltura do Golpe de 1964, não é a minha intenção. O papel do cristianismo no Brasil atualmente se faz valer nos bastidores, ingressando políticos ao Senado e a Câmara dos Deputados, disputa-se votos neste país laico, mas impetrado em questões moralistas. Hoje a bancada evangélica é importantíssima e quando há uma pauta de interesse cristão, é facilmente enxergada uma unidade cristã, juntando católicos e protestantes nas mesmas teses, onde os evangélicos já não são tão divisores assim e os católicos já não são tão idólatras como antes. Pastores e Padres discursam pela mesma causa. Mas que causa é esta? Não faz muito tempo que a Marta, antiga Prefeita da Cidade de São Paulo perdeu a reeleição porque foi ligada a uma imagem promíscua perante os ideais cristãos. Apontaram à taxa do lixo criada em seu governo como a grande causa para o insucesso, porém, é sabido que a separação matrimonial com Eduardo Suplicy, separação anterior ao processo eleitoral, mas escondida dos olhos dos eleitores em sua vitória no primeiro mandato e mais a sua profissão de sexóloga, foram os grandes fatores para a sua derrota na eleição que lhe daria o segundo mandato. A atual Presidenta teve que dialogar com Padres e Pastores para não perder a eleição, uma militante esquerdista, torturada na Ditadura com práticas inspiradas ou semelhantes aos tribunais Inquisitoriais, Dilma se viu obrigada a se aproximar da Igreja. O ex Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tido no passado como Comunista, ateu, também se aproximou da Igreja e voltou a comungar, gerando polêmica, pois os mais fanáticos o apontaram como pecador, dizendo ao Presidente que ele deveria se confessar antes de comungar. A Igreja segue no processo político brasileiro, mas não de forma fundamental no poder. Correto mesmo é afirmar que o “se” não fez e não faz História, no entanto o cristianismo segue um caminho divergente à ideologia de Jesus Cristo. Nem a César ao que é de César, nem a Lula ao que de Lula, porque o nosso cristianismo mudou e o futuro a DEUS pertence, resta saber se será o DEUS católico, DEUS protestante ou se tornará politeísta. E assim segue o Brasil, tão secular como hipócrita, enaltecendo os seus dogmas e vigiando quem supostamente possa comandar este solo. Evandro Amaral Fernandes - Guga. Evandro Amaral Fernandes - Guga.

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