segunda-feira, 23 de abril de 2012

O Racismo do Brasil. Lançando-se à análise crítica com o "anacronismo vivencial".

ANÁLISE CRÍTICA DOS DOCUMENTOS:
BRANQUEAMENTO E BRANQUITUDE NO BRASIL; RETRATO DO BRANCO RACISTA E ANTI RACISTA.


As questões raciais no Brasil vão além do que entendemos de racismo na atualidade e encontrar o eurocentrismo e o etnocentrismo como fatores preponderantes para a prática preconceituosa neste país, talvez seja equivocada e erronia, não que estes fatores não estejam ligados diretamente, porém há questões externas que desbastadas, chegarão ao que conhecemos de racismo brasileiro no século XXI. O trabalho de Lourenço Cardoso deixa claro que há uma branquitude crítica e acrítica no Brasil, onde por ora, sugere o autor que estabelecem racismos diversos, no entanto discorre erroneamente em questões de ativismo ideológico e não elucida na prática o que o brasileiro entende como algo preconceituoso. Sugiro que o erro de Lourenço Cardoso em sua tese, foi não ter avançado no sentido da Colonização do Brasil, que deu inicio a um Brasil racista e verdadeiramente branqueado, sob a égide de um cristianismo corrompido, iniciando-se pelo escambo, troca comum de quinquilharias com indígenas, partindo para escravidão indígena, organizada entre Coroa-Igreja comungando da mesma idéia, gerar lucros a Portugal, através da mão de obra indígena. À priori, discorro de forma anacrônica me aproximando do sentindo da colonização do Brasil, buscando compreender os nossos problemas de ignorância plena, haja vista que um indivíduo racista regride, lançando-se a uma hegemonia de raça, já desgastada e desmistificada pela historiografia. Bem quisto será um cidadão sem preconceitos étnicos, raciais, sexuais ou religiosos nos discursos atuais, no entanto é sabido que no Brasil a hipocrisia toma conta das mídias e transfere-se a população em geral, e este bem querer, talvez seja algo sem raízes, ou seja, como fosse uma forma de racismo crítico, bem colocado por Cardoso. Fundamento-me na obra de Caio Prado Júnior (1942) que na problemática, busca compreender a formação do Brasil contemporâneo. Creio que o racismo se iniciou com a chegada dos europeus, não só por questões eurocêntricas, mas pela busca da hegemonia portuguesa no mercado europeu e a conquista do solo brasileiro se fez para expandir o território e encontrar aqui matéria prima para levar a Europa, cabendo no processo o escambo e posteriormente a escravidão indígena. Para dar um caráter "economicista" a minha Resenha crítica, interajo com outra pesquisa e esta de autoria de João Pacheco de Oliveira e Carlos Augusto da Rocha Freira, A presença Indígena na Formação do Brasil (2006), pois nesta tese, o objetivo da colonização era o de produzir produtos que pudessem ser comercializados nos mercados europeus. Tanto os portugueses, os missionários Jesuítas e os colonos que aqui se fixaram por intermédio de subsídio da Coroa, traçaram metas de dominação, onde não obtiveram êxito na escravização do povo indígena, pois os homens indígenas não eram acostumados com a agricultura em grande escala e também por haver resistência dos diversos povos indígenas. Desta forma, ocorre a transição da mão de obra escravizada indígena para a fixação de outro povo condenado ao domínio, sendo este de origem africana. As compreensões diversas do racismo atual no Brasil são enxergadas por diversas formas, entre elas estão a cultural e a profissional. Para se dar um exemplo, vamos ao futebol, esporte este que leva multidões em todo o mundo, no entanto fez do Brasil aos pés de um homem negro, uma supremacia que nos leva a uma reflexão confusa. Como um país racista, pode coroar um Rei negro, rei do futebol e orgulho da Nação? Sim, este país é racista, mas se enxerga, fatores externos e os interesses capitalistas encobrem o racismo já impetrado. O futebol no Brasil iniciou-se com brancos e tão logo foram aceitos negros por questões óbvias. O negro era visto como veloz e sinônimo de agilidade, visão esta transferida para o campo de jogo. Do amadorismo ao profissionalismo, fácil é encontrar os interesses monetários e fez-se aí, uma maneira de aceitação ao negro no Brasil. Esta não é uma citação de uma nova forma branda de preconceito, como é o tão criticado o Gilberto Freyre, mas cabe uma reflexão quando chamamos um homem negro de Rei. Citarei Nelson Rodrigues, cronista esportivo e jornalista. Tido como “reacionário” ao qual apoiou o Golpe Militar em 1964 por entender que o Regime era o melhor para o país naquele momento. Nelson Rodrigues descreveu assim o Pelé, antes mesmo da fama cosmopolita de Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé.

 “Depois do jogo América x Santos, seria uma crime não fazer de Pelé o meu personagem da semana. Grande figura, que o meu confrade Albert Laurence chama de “o Domingos da Guia do ataque”. Examino a ficha de Pelé e tomo um susto: — dezessete anos! Há certas idades que são aberrantes, inverossímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de quarenta, custo a crer que alguém possa ter dezessete anos, jamais. Pois bem: — verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope. Racionalmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis. Em suma: — Ponham-no em qualquer rancho e sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor. O que nós chamamos de realeza é, acima de todo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: — a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem enxota quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento. E o meu personagem tem tal sensação de superioridade que não faz cerimônias. Já lhe perguntaram: — “Quem é o maior meia do mundo?”. Ele respondeu, com a ênfase das certezas eternas: — “Eu”. Insistiram: — “Qual é o maior ponta do mundo?”. E Pelé: — “Eu”. Em outro qualquer, esse desplante faria rir ou sorrir. Mas o fabuloso craque põe no que diz uma tal carga de convicção, que ninguém reage e todos passam a admitir que ele seja, realmente, o maior de todas as posições. Nas pontas, nas meias e no centro, há de ser o mesmo, isto é, o incomparável Pelé. Vejam o que ele fez, outro dia, no já referido América x Santos. Enfiou, e quase sempre pelo esforço pessoal, quatro gols em Pompéia. Sozinho, liquidou a partida, liquidou o América, monopolizou o placar. Ao meu lado, um americano doente estrebuchava: — “Vá jogar bem assim no diabo que o carregue!”. De certa feita, foi até desmoralizante. Ainda no primeiro tempo, ele recebe o couro no meio do campo. Outro qualquer teria despachado. Pelé, não. Olha para frente e o caminho até o gol está entupido de adversários. Mas o homem resolve fazer tudo sozinho. Dribla o primeiro e o segundo. Vem-lhe ao encalço, ferozmente, o terceiro, que Pelé corta sensacionalmente. Numa palavra: — sem passar a ninguém e sem ajuda de ninguém, ele promoveu a destruição minuciosa e sádica da defesa rubra. Até que chegou um momento em que não havia mais ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: — a defesa estava indefesa. E, então, livre na área inimiga, Pelé achou que era demais driblar Pompéia e encaçapou de maneira genial e inapelável. Ora, para fazer um gol assim não basta apenas o simples e puro futebol. É preciso algo mais, ou seja, essa plenitude de confiança, certeza, de otimismo, que faz de Pelé o craque imbatível. Quero crer que a sua maior virtude é, justamente, a imodéstia absoluta. Põe-se por cima de tudo e de todos. E acaba intimidando a própria bola, que vem aos seus pés com uma lambida docilidade de cadelinha. Hoje, até uma cambaxirra sabe que Pelé é imprescindível em qualquer escrete. Na Suécia, ele não tremerá de ninguém. Há de olhar os húngaros, os ingleses, os russos de alto a baixo. Não se inferiorizará diante de ninguém. E é dessa atitude viril e mesmo insolente que precisamos. Sim, amigos: — aposto minha cabeça como Pelé vai achar todos os nossos adversários uns pernas-de-pau – Nelson Rodrigues - 25 DE MARÇO DE 1958, NUM SANTOS 5 X 3 AMÉRICA, NO MARACANÔ. Nelson Rodrigues.

 O artigo acima mostra que o negro poderia ser figura importante e respeitada em nosso país, todavia o que se vê é uma aceitação, não única, porém que mascara todos os nossos problemas de racismo no Brasil. O interesse monetário e a forte presença do futebol em nossa cultura “amenizam” o racismo contra o negro brasileiro. Talvez seja este o motivo que faz os brasileiros comungarem de diálogos do “senso-comum” acreditando que o racismo não existe no Brasil contra o homem negro e até mesmo alguns negros não enxergam algumas formas de preconceito como o racismo fixado nesta Nação. Outro fator que enxergo como falho é o autor não mencionar as questões que transformaram o país em moderno ou discorrer nas transições que aqui houve. O positivismo militar inspirando em Comte tirou das mãos do Império em 1889 e transferiu o país aos senhores republicanos que deram continuidade a exclusão do negro na sociedade brasileira. Surgiu a idéia de branqueamento do país como prioridade naquele momento, subsidiando a chegada de europeus vindos de locais com dificuldades econômicas, como os italianos vindos do sul daquele país fugindo de doenças, como a pelegra, que matou diversos italianos. Por aqui não chegaram apenas italianos, mas uma enxurrada de povos e costumes diversos, ocorrendo assim uma grande reforma agrária, feita para doar terras a brancos europeus e também aos japoneses. Não que tenha sido de forma imediata, mas paulatinamente as terras foram sendo entregues aos brancos, cabendo ao negro um lugar “pormenor” na sociedade brasileira, mesmo tendo a sua liberdade conquistada em 1888. Eu não posso afirmar com veemência, porém alguns discursos da época citavam a questão do Haiti que viveu uma Revolução escravista em 1791 e o medo de alguns Republicanos brasileiros era que acontecesse o mesmo com o Brasil, no entanto não houve alarde e os negros do Brasil não tomaram a mesma iniciativa, não que não houvesse resistência, no entanto não foi fundamental para uma grande Revolução dos negros no Brasil para dar fim à escravidão. O fim da escravidão foi externo, por fatores econômicos e não internos e humanitários. No Haiti a Revolução deu inicio ao Processo de Independência em 1804 e no Brasil a liberdade dos negros em 1888 não deu a importância e participação devida no processo político e social a eles. A partir da liberdade do negro no Brasil, inicia-se a favelização, que escondiam os negros aos olhos da sociedade brasileira. Outra questão pouco aprofundada pelo autor, pois não se esforça em encontrar os motivos que levaram a perseguição do povo negro no Brasil e como eles chegaram às favelas e cortiços do país. Outra transição também não elucidada de forma correta se dá na transição dos Republicanos à era Vargas. De um Brasil cafeeiro, surge então outro período importante, embora seja contraditório, o Nacionalismo de Vargas levou o Brasil ao tecnicismo e este talvez tenha sido o primeiro momento que o negro inicia-se na inserção do mercado de trabalho. Após confrontos políticos internos, a aproximação de Vargas com a política estadunidense é muito importante para discorrer sobre o Brasil de hoje. A modernidade brasileira necessitava de mão de obra, longe da intelectualidade, negros também foram aceitos nas indústrias do Brasil, não que fosse regra, mas o país viu-se obrigado a aceitar negro como assalariado e a criação da CLT pelo Regime Vargas também deu ao negro os mesmos direitos dos brancos, ou seja, a carteira de trabalho assinada. Longe de resolver a questão racial no Brasil, meio que no fluxo econômico apareceu o negro no sistema fabril deste país, algumas décadas depois da sua Liberdade. Outro tema abordado em Retrato do Branco Racista e Anti-racista foram os grupos extremistas do ABC na região metropolitana de São Paulo e creio que este extremismo não faz parte da nossa identidade racista, por entender que estes grupos não conseguem expandir as suas ideologias e restringe-se a grupos não numerosos, pois o Brasil tem uma densidade geográfica enorme e uma população que não comunga desses mesmos ideais diretamente, população esta muita próxima dos 200 milhões de habitantes. O Racismo brasileiro não é o dos “carecas”. Voltando ao “legado” da era Vargas, a aproximação com a cultura estadunidense após apoiar as tropas daquele país na Segunda Guerra Mundial, faz-se presente a cultura do povo estadunidense, pois temos inúmeros jovens adeptos a cultura dos Estados Unidos da América e cultura mais relevante em lutas sociais contra o preconceito de cor vieram através do Rap dos Estados Unidos. Se o autor utilizou-se da Ku Klux Klan para mencionar a fixação de uma cultura “white power” entre os jovens da região do ABC, eu enfatizo a chegado do Hip Hop estadunidense como fonte de resistência do negro brasileiro. Nota-se que ao mesmo tempo em que há o preconceito racial, o negro brasileiro não é tão omisso quanto o texto nos mostra. É evidente que a mídia transforma o brasileiro como um povo de paz, de convivência inigualável, no entanto, há muito, o negro brasileiro sabe lutar pelos seus direitos e fazer a crítica contra a mídia. Distante de resolver as questões raciais, notáveis figuras dos guetos brasileiros e em especial da capital bandeirante, criticam a falta de oportunidade, a presença maciça de brancos na TV, em cargos corporativos de relevância e as dificuldades do negro no dia a dia, como no mercado de trabalho, na Cultura ou Religião e expõem as suas emblemáticas críticas em composições de rap. Na pesquisa Branqueamento e Branquitude no Brasil de Maria Aparecida Silva Bento, os aspectos sobre o branqueamento, o preconceito da elite brasileira para com o negro e o medo da ascensão negra se faz presente no projeto. Os interesses econômicos são bem colocados em sua obra e deixa nítido que a sociedade brasileira se acostumou a ver o branco como o belo e o negro como o temível, como a escuridão. A estética é questionada em sua tese e nota-se que há um zelo em desvendar no que o povo brasileiro chama de bonito e o motivo pelo qual há a miscigenação. Aponto como algo atual e que possa entrelaçar junto ao trabalho da autora que é a questão do cristianismo brasileiro. Sabe-se que a Santa de devoção dos brasileiros é negra e também é sabido que a sua cor original é cinza, quando assim foi encontrada na Região de Guaratinguetá-SP, a Igreja Católica Apostólica Romana, que teve presença relevante no Brasil na Colonização com a Ordem dos Jesuítas, ficou atrelada aos colonos e não conseguiu se impor nos processos políticos deste país, digo se impor, tratando de participação direta na política, pois bem, voltando a Nossa Senhora da Aparecida, a Igreja aceitou a devoção dos escravos junto a Santa e adotou os milagres para ela. Hoje, não sei ao certo se é pela forte presença da Igreja Protestante no Brasil, utilizando-se da regra pentecostal de não assimilar outras culturas, a Igreja Católica em solo brasileiro prefere manter distância das religiões de origens africanas e esta é uma questão fervorosa e muito discutida entre as religiões. Eu creio que faltou mais enfoque no preconceito a religião africana pela autora do Branqueamento e Branquitude no Brasil, porém ela conseguiu mostrar o quanto o brasileiro incorporou a branquitude e continua a perpetuar o racismo no Brasil, infelizmente. Sobre as práticas religiosas, encontro na tese de Anita Novinki sobre os prisioneiros do Brasil (2009), onde os brasileiros que foram presos na época colonial, acusados de judaísmo, homossexualismo, bigamia, feitiçaria, heresias e blasfêmias, todos estes mencionadas, e outros crimes de acusação praticados pela Igreja e pelo Estado. É perfeitamente crível sustentar a hipótese de que o brasileiro enraizou-se na inquisição européia praticada na Europa que se enfraqueceu com a Revolução francesa em 1789, no entanto os preconceitos religiosos e a condenação à prática religiosa de outrem se perpetuaram, mesmo não havendo os mesmos requisitos e o tribunal não esteja como forma de sentença neste país. Se a Igreja católica tinha laços estreitos com o Império Luso, não podemos deixar a inquisição de lado, mesmo discorrendo no século XXI. Nota-se nitidamente que o Católico Apostólico Romano do Brasil enxerga como prática demoníaca a religião do negro no Brasil e os protestantes brasileiros a enxergam da mesma forma. Outro quesito que evidencia o protestantismo local é o de condenar não só a religião afro-descendente, mas também a idolatria católica que adotou os fiéis já falecidos que tiveram os seus milagres comprovados pelo Santo Ofício, santidade plena e ascensão ao céu afirmada pela Igreja. Com tantas evidências, creio que a questão inquisitorial não poderia ter sido colocada de lado pelos autores ao qual faço a crítica. Todavia, traduzem a desculpa de uma unidade cristã e a pregação do cristianismo verdadeiro para que se faça a “demonização” da religião afro-brasileira. Há também outras religiões que sofrem preconceitos como a Kardecista, entre outras tantas aqui no Brasil. Por fim, o Racismo do Brasil enraizou-se não só na benevolência da sociedade brasileira a cultura branca européia, mas também nas questões regionais, incorporando o preconceito a uma maneira singular de reduzir o povo negro e os povos que não estão enquadrados aos estereótipos almejados pela sociedade que busca a estética como arte final, confundindo o belo com o branco de forma boçal. Compreender não só o eurocentrismo e o etnocentrismo, mas todo o processo de imposição cultural brasileiro engrandece qualquer pesquisa sobre o preconceito no Brasil.
Por: EVANDRO AMARAL FERNANDES - GUGA.
Viva o Coletivo!



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BENTO. M.A.S. CARONE.I.(Organizadoras) BRANQUEAMENTO E BRANQUITUDE NO BRASIL In: Psicologia social do racismo – estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil / Petrópolis RJ: Vozes 2002.
CARDOSO, Lourenço In:RETRATO DO BRANCO RACISTA E ANTI-RACISTA. Artigo e o termo branquitude acrítica com base em pesquisa de mestrado: O branco invisível.. 2008.
JÚNIOR, Caio Prado – A Formação do Brasil. In: Sentido de colonização. contemporâneo. Editora Brasiliense/Editora Pallotti. São Paulo, 1994.
NOVINSKY, Anita In: Inquisição: Prisioneiros do Brasil. Ed. Perspectiva, São Paulo, 2009.
OLIVEIRA. J. P. FREIRE. C.A.R. A presença indígina na formação do Brasil. Coleção educaçao para todos. Brasilia novembro de 2006
RODRIGUES. N. Cronica Nelson Rodrigues - 25 DE MARÇO DE 1958, NUM SANTOS 5 X 3 AMÉRICA, NO MARACANÃ. www.jornaldatarde.com.br

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Status de hegemonia. 100 anos de futebol arte, parabéns Santos Futebol Clube.

Status de hegemonia. 100 anos de futebol arte, parabéns Santos Futebol Clube.
Nem mesmo a imposição por um cenário futebolístico carioca na região Norte, Centro-Oeste e Nordeste, ou a ganância desenfreada pela mídia que controla o mercado publicitário no Sudeste do Brasil tira o status hegemônico ao bem querer da bola, a benevolência peculiar que o faz ser o Clube que mais balançou a rede dos adversários. Foi o SANTOS FUTEBOL CLUBE que ensinou ao mundo como se jogar fazendo e criando arte. Parabéns SANTOS pelos 100 de Glórias...

domingo, 8 de abril de 2012

O cristianismo secular do Brasil.

O cristianismo secular do Brasil. As questões religiosas no Brasil podem ser vistas como um grande tabu, como em um clássico das multidões, dignas de um Fla x Flu dos anos 70. Fosse eu um cronista de grande talento, me inspiraria em Nelson Rodrigues para discorrer com astúcia sobre o cristianismo no Brasil do século XXI. Católicos Romanos e Protestantes Petencostais duelam desde o inicio do século passado para impor uma verdade conforme as respectivas doutrinas. Nelson Rodrigues talvez fizesse a crítica ao cristianismo moderno, onde seria “endemonizado” e inquirido, não pela benevolência ao erotismo comum em suas crônicas, mas por ousar em fazer a crítica aos religiosos. Eu, Cristão declarado, por crença e milagre, dou inicio a este artigo tomado pelo cristianismo “brasileiro”, pois desde garoto ouço pregações de cristãos católicos e evangélicos e acompanho a mudança de comportamento dos “irmãos” na grande São Paulo. Lembro-me quando criança dos crentes indo a Igreja com lindos trajes, homens tão bem vestidos quanto advogados na Praça João Mendes e mulheres com vestidos devidamente engomados, como fossem a uma festa de gala, ou em um jogo de futebol nos anos 10 do século XX. Entre os Católicos, “idólatras” para os “crentes”, via-se a cruz a mostra e a imagem de Nossa Senhora em suas mãos, imagem envolta a um terço ou rosário. Os católicos não eram tão bem vestidos como os protestantes, mas seguiam a caminho da salvação junto a Igreja do bairro. Vinte e poucos anos se passaram, ao qual a minha memória alcança e vejo que o comportamento dos cristãos brasileiros mudou, não somente nos trajes, mas também na essência. Ao dogma cristão, sobrou o sonho do primeiro milhão, do primeiro iate, da primeira mansão. A cruz que foi o sinal da salvação, vazia para os evangélicos, representada pelo Cristo morto aos Católicos para enfatizar o sofrimento do filho de DEUS na terra foi trocada pela prosperidade desenfreada, da permuta do dízimo para com a riqueza divina. As orações em vigílias, tão comuns no inicio dos anos 90 levavam fiéis à entrega cristã do cristo pobre, filho de gente humilde e hoje, ao que me parece não carrega tantos jovens a vivenciar esta pregação que narra o filho de José e Maria, paupérrimos a espera do fim do sofrimento ao povo judeu. Um desavisado certamente imaginaria que Jesus nasceu rico e com o passar dos anos acumulou riquezas com ajuda do pai celestial e por este motivo foi morto, não por se declarar o Messias, mas sim por uma questão de luta de classes ou assassinado por não pagar os seus impostos em dia. Pode-se imaginar Jesus em sua volta dirigindo uma Ferrari e andando de Iate. Se um cidadão não conhecedor da fé cristã assistir a pregações do cristianismo contemporâneo brasileiro pode-se chegar à conclusão citada acima sem nenhum exagero. A Igreja Católica Apostólica Romana, ao contrário do que imaginam não teve força política no Brasil. Apareceu no inicio da Colonização portuguesa no Brasil com a aliança Coroa-Igreja, mas tão logo as divergências econômicas surgiram e a Igreja tornou-se uma espécie de concorrente da Coroa, dentro da complexidade devida, a difusão ocorreu paulatinamente e com as pressões dos colonos, se fez valer o desenvolvimento econômico. Tanto a escravidão indígena, escravidão dos negros e a vinda dos imigrantes europeus para embranquecer o Brasil não tiveram a influência direta do Santo Oficio. A Igreja aparece dentro do processo, mas não como fundamental. A inquisição ocorreu por aqui, no entanto pontual e não como regra. A Igreja Católica se importou pouco com o Brasil porque a rentabilidade em grande escala não existiu ao longo destes séculos a seu favor. O declínio dos negócios no engenho de cana também foi fundamental para o desinteresse da Igreja por aqui, dando mais espaço aos colonos, que tomaram de assalto às terras indígenas. No ingresso do Brasil para a modernidade, a influência foi Militar e Positivista inspirada em Auguste Comte, filósofo francês, ideologia esta adotada por intelectuais de farda no fim do século XIX e inicio do século XX. Desta forma, não podemos imaginar que a influência cristã se fez valer no Brasil moderno, após a proclamação da República em 1889 e não foi a Igreja que deu fim a escravidão brasileira em 1888. A figura do ativismo religioso talvez tenha aparecido com o surgimento da Igreja Protestante no Brasil, singular em aspectos religiosos, pois a prosperidade do protestantismo europeu não ocorreu na sua essência em terras brasileiras em seu inicio. Viu-se uma prática mais voltada ao cristianismo medieval, guardadas as devidas proporções, mas se fazia valer a fé em DEUS, seja na pobreza ou possível riqueza. E este protestantismo apareceu em um momento do país com certa liberdade. Pode-se citar a expulsão dos holandeses no passado, não só por questões territoriais, mas também porque eram protestantes, no entanto dizer que foi por grande influencia da Igreja Católica talvez seja uma forma inverídica de conceituar. O surgimento do protestantismo em sua plenitude veio na República e antes disso a questão de proteção territorial era a preocupação. Apontam a Marcha da família em janeiro de 1964 como fator que auxiliou no Golpe Militar, porque a Igreja discursava contra o ideal Comunista e a elite com medo de perder os seus bens em um suposto levante igualitário, foi às ruas utilizando-se da fé, para se fazer valer a tradição e moral e isso não se deu diante da temeridade do ateísmo que o comunismo poderia proporcionar ao país. Nota-se que a questão econômica foi mais presente do que a fé e apontar a passeata para a desenvoltura do Golpe de 1964, não é a minha intenção. O papel do cristianismo no Brasil atualmente se faz valer nos bastidores, ingressando políticos ao Senado e a Câmara dos Deputados, disputa-se votos neste país laico, mas impetrado em questões moralistas. Hoje a bancada evangélica é importantíssima e quando há uma pauta de interesse cristão, é facilmente enxergada uma unidade cristã, juntando católicos e protestantes nas mesmas teses, onde os evangélicos já não são tão divisores assim e os católicos já não são tão idólatras como antes. Pastores e Padres discursam pela mesma causa. Mas que causa é esta? Não faz muito tempo que a Marta, antiga Prefeita da Cidade de São Paulo perdeu a reeleição porque foi ligada a uma imagem promíscua perante os ideais cristãos. Apontaram à taxa do lixo criada em seu governo como a grande causa para o insucesso, porém, é sabido que a separação matrimonial com Eduardo Suplicy, separação anterior ao processo eleitoral, mas escondida dos olhos dos eleitores em sua vitória no primeiro mandato e mais a sua profissão de sexóloga, foram os grandes fatores para a sua derrota na eleição que lhe daria o segundo mandato. A atual Presidenta teve que dialogar com Padres e Pastores para não perder a eleição, uma militante esquerdista, torturada na Ditadura com práticas inspiradas ou semelhantes aos tribunais Inquisitoriais, Dilma se viu obrigada a se aproximar da Igreja. O ex Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tido no passado como Comunista, ateu, também se aproximou da Igreja e voltou a comungar, gerando polêmica, pois os mais fanáticos o apontaram como pecador, dizendo ao Presidente que ele deveria se confessar antes de comungar. A Igreja segue no processo político brasileiro, mas não de forma fundamental no poder. Correto mesmo é afirmar que o “se” não fez e não faz História, no entanto o cristianismo segue um caminho divergente à ideologia de Jesus Cristo. Nem a César ao que é de César, nem a Lula ao que de Lula, porque o nosso cristianismo mudou e o futuro a DEUS pertence, resta saber se será o DEUS católico, DEUS protestante ou se tornará politeísta. E assim segue o Brasil, tão secular como hipócrita, enaltecendo os seus dogmas e vigiando quem supostamente possa comandar este solo. Evandro Amaral Fernandes - Guga. Evandro Amaral Fernandes - Guga.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Elano é sinônimo de vitória, no engenho e na bola.

Elano é sinônimo de vitória, no engenho e na bola.

Dos canaviais ao estrelato porque na pequena Iracemápolis não coube talento imenso. Serviria este texto como forma de homenageá-lo?
Artigo este destinado em favor de alguém que hoje é colocado a prova, no entanto quem o acompanha ao longo de sua trajetória futebolística jamais duvidou do Coringa da Vila. Um humilde filho de cortador de cana é de fato persona anônima neste país com olhos voltados as grandes metrópoles e se disserem hoje que a cana de açúcar já foi o grande negócio do país na Colonização, poderiam até questionar, por não conhecerem a nossa História ou não se interessarem por ela. Pela cana escravizaram os índios e não contentes com a tal produção, iniciou-se a escravidão dos negros e após a Liberdade dos negros, ganhou a vez os imigrantes que vieram para embranquecer o país em uma política racista adotada no inicio do século passado. Este país viu-se índios perder suas terras, negros e brancos, da foice e da bola e por ora esconde-se as glórias aos louros da próxima vitória ou da próxima safra. Ah a hipocrisia interna de gente do samba e do engenho de cana!
Ao que me parece entramos em uma derrocada fantasiosa ao qual se necessita sair vitorioso ao fim do campeonato, ano após ano e se a torcida não soltar o grito de campeão em um campeonato que seja de suma importância, faltarão fãs e surgirão dúvidas. Alguns profissionais da imprensa esportiva dão ênfase ao futebol estrangeiro, completa “heresia”, e se isso ocorresse nos anos 60, talvez, seria repensado o nosso futebol, mas nós não temos pensadores como antes e hoje qualquer reflexão em torno do futebol mercadológico é dada a relevância descabida.Talvez o grande negócio que é hoje o futebol brasileiro fará deste jogo cada vez mais previsível onde se olha primeiro a propaganda, depois o escudo da camisa e dão mais importância a audiência de TV do que se tem para ver.
Pois bem, gente de bem, eu volto ao Blumer porque é dele a quem devo este artigo, até porque eu não posso me esquecer de um ídolo do alvinegro das praias, aquele que no inicio da sua trajetória sofreu com as críticas da torcida, não sucumbiu aos rojões atirados em sua direção pela própria torcida, nem mesmo a perdas de campeonatos. O Elano resistiu firme até o ano em que ajudou ao time de Vila Belmiro a sair do calvário, pois em 2002 o fardo pesado saiu das costas do santista.
Este já foi lateral, meia e volante, primeiro atacante, ponteiro, inclusive centroavante e se hoje não tem o devido o reconhecimento, deve-se ao baixo nível de paixão de torcedores contemporâneos. São os mesmos torcedores que ousam em torcer para o Santos e um time europeu. E como é entediante saber que um jovem brasileiro é torcedor de um time europeu.
Lembro-me de um jogo em que eu estava ouvindo atentamente, jogo este que o Santos era o adversário, Vasco da Gama contra o Peixe. Eu ouvia pela rádio AM e um torcedor do Vasco berrava na beira do alambrado. “Elano, Elanooo, Elanoooooo, tu é ruim, tu jamais irá para Seleção”. Jamais saiu da minha cabeça tais berros e quando o Coringa chegou a Seleção eu lembrei-me daquela partida ao qual eu ouvi pelo radinho AM.
Eu não posso me esquecer jamais do fim do nosso jejum de títulos. Estava lá, quem vos escreve naquela tarde no Morumbi e confesso que eu não consegui assistir ao jogo com a devida atenção, porque aquele clássico valia mais que qualquer decisão. Aquela decisão valia lágrimas de uma imensa paixão ao Alvinegro de maior expressão, onde do outro lado estava um grande adversário, com um grande elenco, sem o peso do jejum de títulos e do nosso lado estavam os meninos de ouro. Até o gol do Elano, tudo estava indefinido, pedalamos, jogamos e deixamos jogar, mas quis o destino fazer do filho do cortador de cana um dos heróis da conquista.
Sugiro que algum santista da nova geração respeite os seus ídolos, porque eu agradeço ao Guga matador da camisa 9, o G10, Camanducaia, Jamelli, Almir, Sérgio que foi um guarda metas a se espelhar e mais uma porção de outros craques que fizeram da camisa do Santos Futebol Clube algo para se orgulhar, mesmo em tempos de insucessos.
Encerrarei por aqui, até porque discorrer sobre a sua passagem pela Seleção e a grande bola que jogou no Mundial de 2010 na África do Sul é chover no molhado. Aponto com veemência que o Elano Ralph Blumer ganhou 2 títulos brasileiros marcando gols nas duas decisões, uma Taça Libertadores da América e um Paulista pelo Peixe, mas a maior conquista deste atleta foi de provar para todos que o seu talento é indiscutível e não se restringiu a Iracemápolis, Limeira e Região.

Evandro Amaral Fernandes – Guga.