A ÚLTIMA CHAMADA PARA A DEMOCRACIA DO BRASIL
A quantas estaria o Brasil se a esquerda autóctone brasileira resistisse
ao Golpe com armas na mão, como propôs Brizola em Abril de 1964?
Apático e tomado pela derrota, Jango entregou o poder e, para o
descontentamento do Brizola, o Arraes não quis dar ouvidos ao plano de
resistência armada, um plano de bravura e certamente suicida de Leonel Brizola,
aquele que talvez tenha sido o mais notável caudilhista e intelectual que já se
viu na política brasileira. Mas qual a comparação com a ruptura política de 1°
de Abril de 1964 ao 2° Turno das eleições presidenciáveis de 2018?
Pois bem...
Há sim o desmonte de nossa democracia em curso, ainda que parte da
imprensa de análise financeira e os subordinados de pauta de redação, apontarem
para nós, os democratas e os progressistas, como exagerados ou ensaístas de um
prenúncio equivocado. Ainda que eles não enxerguem ou que tenham venda em
vossos olhos e estejam amordaçados em frente ao teleprompter e não possam assim
dizer, nós brasileiros corremos sim o perigo de que nos próximos 4 anos ocorra
uma derrubada do nosso poder de escolha, do nosso direito garantido do voto
direto.
Há quem não dê a mínima para a nossa Constituição, idealizada com a
contribuição dos legalistas, liberais, neoliberais, comunistas, trabalhistas,
socialistas e, acima de tudo, com o apoio popular daqueles que viveram o caos
social e ético dos anos de chumbo no Brasil, sobretudo após a segunda metade
dos anos 70, quando se viu ruir de vez a economia e os seus planos econômicos
mirabolantes, a ponto da liderança militar no poder demonizar o Delfim Neto e
forçá-lo ao exílio, aquele que outrora teria sido considerado o mentor do
milagre econômico da Ditadura Civil Militar do Brasil.
Infelizmente, nós brasileiros já estamos derrotados, o nosso verdadeiro
7a1 se deu nos últimos meses, com a explosão da intolerância que tomou de
assalto o país. Nós estamos vulneráveis as mais variadas e falsas notícias nas
redes sociais, assistimos angustiados a propagação de mentiras, calúnias e
difamações, incrédulos com tudo o que se deu e se dá até aqui, na onda de
agressões físicas, psicológicas e morais, na velocidade que o que há de mais
sórdido e inverídico pode percorrer por todos os cantos do Brasil. Não é mera
coincidência, o medo e o ódio estão vivos em nosso cotidiano, faz parte da
nossa gene política, interiorizada em nossa formação social.
Durante o período que se antecedeu ao Movimento Diretas Já no início dos
anos 80, os mais variados grupos uniram forças para derrubar os militares, um
movimento que ganhou força entre as frentes artísticas, fabris, intelectuais e
estudantis, deixando todas as diferenças ideológicas de lado e se juntaram de
maneira pacífica, haja vista que todos tinham conhecimento de que as torturas,
assassinatos e os estupros ocorreram dentro da maior naturalidade, perversidade
subsidiada pelo patronato da OBAN e organizada pelo Estado. E o Movimento
intelectual e fragmentado se deu em prol de um país humanista, um modelo de
resistência legalista e de estratégia coerente, pois contra os facínoras, usar
a inteligência foi o melhor caminho para se derrubar o poder das armas e de
todos os canhões.
O contexto de agora nos arremete ao de outrora, o do medo dos
desavisados da chegada do comunismo, da necessidade de se manter a moral e os
bons costumes, do cristianismo acima de tudo e de todos, tudo muito igual, como
se houvesse agora uma visitação à Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade que
ocorrera em março de 1964, nos entregando à própria sorte, chancelando o poder
bélico, terceirizando nossas vidas em favor de um Estado autocrata e, mais
adiante, do AI-5 de 1968, macabro, perverso e doentio. É preciso corrigir os
erros estratégicos do passado para não entregarmos às gerações futuras o
cárcere comportamental de uma autocracia, católico conservador e neopentecostal
financiada pelo agronegócio.
Precisamos todos unir forças contra o desmonte de nossa DEMOCRACIA,
precisamos todos ter a coragem de impedir que nossas vidas novamente sejam
terceirizadas a oficiais que, na desculpa de se manter a ordem, nos presenteiam
com limitações de direitos de cidadãos garantidos em nossa CF/88, da árdua labuta
de legalistas, construída através de muito sangue de jovens e trabalhadores
brasileiros, Constituição que custou a vida de milhares de brasileiros e
brasileiras. Precisamos lutar para que não tenhamos mais jovens estudantes
sendo estupradas por agentes tarados, para que congressos estudantis não sejam
mais invadidos por forças de segurança pública empunhando armas e prendendo
jovens, para que nenhuma mãe seja torturada na frente dos seus filhos, para que
nenhum trabalhador seja assassinado e tenha os seus restos mortais ocultados
para todo o sempre. Nós legalistas precisamos barrar nas urnas a escalada do
fascismo no Brasil e isso é para ontem, vamos barrar o fascismo sem armas,
vamos barrar o fascismo alertando o povo pelo perigo que nos ronda. Precisamos
todos entender que vivemos em uma frágil democracia, em um continente pobre e
de economia periférica, ambiente propício para um novo golpe de Estado e início
de um novo pesadelo social.
Caso concretize-se à vitória do Jair Bolsonaro no próximo dia 28 de
Novembro, não haverá necessidade de golpe de estado, como o Brasil assistiu em
31 de Março de 1964, nem mesmo uma transição Civil-Militar, como quando Ranieri
Mazzili assumiu o poder de maneira transitória para entregar aos militares de
maneira ordeira. O Golpe em nossa democracia será via voto direto, por vontade
popular, com o ódio se saindo vencedor nas urnas, por querência popular. O
mesmo ódio de 1964, mas com um agravante, pois o ódio dos anos 60 era branco e
de classe média, um medo comunista incorporado pela classe média como fosse ela
estadunidense, envolvida diretamente na guerra fria, envolta a um clima de
ficção Hollywoodiano.
No Brasil de hoje, fomentou-se ódio ao ativismo em prol de causas sociais,
mesmo daqueles que vivem em bairros pobres ou em comunidades, pois o medo do
comunismo ganhou força até entre os não abastados.
É evidente que devemos ter um olhar clínico ao
momento conturbado do país, após um golpe parlamentar, com o presidente Michel
Temer com uma das maiores taxas de reprovação da História do Brasil, com um
Brasil afundado em dívidas públicas e com a explosão da violência urbana causada
pela falta de políticas públicas eficazes para derrubar o poder dos cartéis de
narcotraficantes e do crime organizado como um todo, crime que se espalhou por
todos os estados brasileiros.
E é justamente na insegurança do Brasil, no cansaço
da sociedade brasileira para com os anseios de uma vida mais justa e tranquila,
que o candidato da extrema direita ganha força, pois o povo com medo da
escalada da violência, toma hoje como crível que o seu candidato fascista
derrotará o crime no Brasil, como fosse ele o Batman brasileiro. Povo composto
por desavisados, desiludidos e, sobretudo, bestializados, povo que já não
consegue enxergar que o candidato Jair Bolsonaro representa a Velha Política
brasileira e mesmo após 30 anos exercendo mandatos na casa do povo, não
conseguiu aprovar leis que colocassem freio na bandidagem e na violência do
Brasil, tampouco no Rio de Janeiro, domicílio a quem lhe confia votos há muito.
É evidente que o PSL de hoje não é a UDN de outrora, tampouco o PTB (hoje PDT),
sigla roubada e herdada pelos correligionários do sempre em suspeição, Roberto
Jeferson, seja o PT do Haddad, todavia, comparar os períodos cuidadosamente sem
cometer equívocos anacrônicos é primordial para os dias de hoje.
E diante do fascismo que bate em nossas portas,
espero que todos os LEGALISTAS do Brasil compreendam que é preciso mostrar ao
povo brasileiro que os livros podem sim e são, mais eficazes que as armas, que
o investimento em Educação e a volta de uma política econômica do pleno emprego
e da distribuição de renda ainda é possível de ser implementada no Brasil, que
podemos vislumbrar por uma taxa menor de desemprego se cobrarmos investimentos
precisos em setores primordiais em nossa economia. Nós precisamos barrar o
congelamento imoral dos gastos públicos do Temer de 20 anos. Precisamos dizer
ao povo brasileiro que dar um voto de confiança ao Haddad não é chancelar o que
se viu de corrupção na política do país nos últimos anos, mas sim que podemos
mudar o jogo todos juntos, que podemos impor ética e respeito e construirmos
uma nova política, política verdadeiramente de poder popular, de caráter
universal e de garantias plenas em favor da sociedade.
Podemos sim votar 13 e fazer oposição a partir do
dia 01 de Janeiro de 2019 ao PT, sim, podemos, haja vista que o Partido dos
Trabalhadores é um partido democrata e a História não nos deixam mentir, já o
outro lado, o da extrema direita, o lado do Coiso, como bem diz a juventude,
pode nos dar de presente um novo AI 1, no que seria somente uma degustação para
implementação do AI 5 do século XXI, mais perverso e talvez ainda mais letal do
que ocorrera no Brasil lá atrás.
Nós correremos esse risco calados?
Legalistas de todo o Brasil, eu entendo que a hora
é agora, não esperemos que aconteça o pior. É Haddad 13 pela DEMOCRACIA no
Brasil. O sonho não acabou, precisamos buscar votos e vencer o ódio nas urnas!
Evandro Amaral Fernandes – Guga.
Graduado em História.